Introdução
A pesquisa visa estudar museus, monumentos e comunidades como lugares de memória pública no Estado do Paraná e Norte de Santa-Catarina \citep{19931993}. A ênfase recairá sobre os elementos estéticos e sensíveis, as relações emocionais com lugares de memória e de sua ausência, bem como suas mediações. E, de fato, museus, monumentos e comunidades se mostram como oportunidades de investigação plurais, uma vez que é possível problematizar as formas de consumo e difusão do passado. O pressuposto é o de que as apreensões de lugares de memória pública ocorrem em vários níveis. Entre eles o racional e o sensível, apreendidos tanto por um único sujeito, quanto por diferentes grupos sociais ou comunidades. Trata-se de um necessidade de investigar e interagir com o público de uma área cultural rica e diversificada, cujas percepções revelam facetas de um cotidiano ressignificado a partir de referências memoriais e históricas, manifestados direta e indiretamente, não apenas nos “dispositivos urbanos” (prédios históricos, fachadas, estátuas de madeira, isto é, lugares de memória ), mas também na arte, na fotografia, na literatura, na poesia, etc. Em relação aos temas abrangidos pela pesquisa, seguem-se suas respectivas problematizações.
Ao estudamos as linguagens artísticas, fotográficas e literárias de Hermann Schiefelbein (1885-1933), Arthur Wischral (1894-1982) e Hugo Hegenberg (1900-1975), respectivamente, e produzimos o livro Telas, lentes e tramas: registros da identidade teuto-brasileira no Paraná (Séc. XX), constamos que suas respectivas leituras e representações de mundo estabeleceram relações emocionais e mediações com seus públicos dentro e fora dos espaços museais. Ao participar do Painel de Discussões para a 6º Conferência Mundial da Federação Internacional de História Pública (Estados Unidos da América), considerei pertinente a roteirização e a produção de curtas-metragens, uma vez que minha recentemente formação na Academia Internacional de Cinema (SP) se voltou para a produção de documentários, com embasamento em produção científica. As discussões do referido painel problematizam a forma como os artistas contemporâneos (séculos XX e XXI) entram no domínio público para educar e comemorar. Deste modo, parte-se da ideia que as obras de arte criam novas representações do passado e desafiam a maneira pela qual a história é construída e lembrada, através de experiências memoriais passadas e presentes \citep{2020}.
A exibição de obras de arte em espaços públicos não só constrói uma memória histórica, mas também cria uma nova representação do passado. Portanto, é pertinente verificar como o público em geral, comunidades, professores e curadores de museus (Museu Oscar Niemeyer e Clube Concórdia) entendem as linguagens artísticas, fotográficas e literárias de Hermann Schiefelbein (1885-1933), Arthur Wischral (1894-1982) e Hugo Hegenberg (1900-1975) como memória pública: Como estas expressões artística, fotográfica e literária se envolvem com a memória pública? Como a pintura, a fotografia e a literatura desafiam a memória histórica? Como as obras de arte públicas aumentam nossa consciência e/ou questionam nossas suposições sobre a memória e o passado?
Os museus e monumentos podem ser considerados como elementos de manifestação do poder. Em outros termos, estes lugares de memória são carregados de simbolismos e funcionam como espaços de legitimação do poder político, cultural e social. Neste sentido, cabe-nos refletir a inserção do Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira (Campo Mourão) e do Museu Etnográfico da Imigração Polonesa (Cruz Machado) na dinâmica de patrimonialização. A ampliação destes espaços no Brasil é marcada pelo estímulo do consumo científico, cultural e turístico destes ambientes, os quais reproduzem discursos específicos ao apresentarem seus acervos ao público, os quais, muitas vezes, não contam com profissionais habilitados (museólogos). Disto resultam deficiências conceituais, de planejamento, restauração, conservação, organização de exposições e ações junto ao público. Além disso, nem sempre as administrações públicas fornecem infraestrutura necessária à salvaguarda e acessibilidade ao público. Partindo-se destas premissas, levantamos as seguintes problematizações: Como estes museus se relacionam com seus Públicos e que tipos de conflitos podem ser identificados entre estes lugares de memória e as práticas docentes durante as visitações? Como os professores da rede pública e mesmo os professores da rede particular de ensino trabalham com as exposições destes museus? Como o público em geral e os professores avaliam a acessibilidade e a inclusão social nestes museus? Que contribuições audiovisuais poderiam ser produzidas coletivamente sobre este lugar e sobre os monumentos das cidades de Campo Mourão e Cruz Machado?
A ativação e a ressignificação de comunidades polonesas no Estado do Paraná e Norte de Santa Catarina, provavelmente inspiradas pela organização e coesão de grupos descendentes de ucranianos em torno de bens culturais, permitiu o surgimento - em União da Vitória (PR), Cruz Machado (PR) e Porto União (SC) - de uma comunidade étnica engajada. Em Cruz Machado-PR, distrito de Santana, o Museu Etnográfico da Imigração Polonesa foi o resultado dos esforços do padre Daniel Niemiec, da comunidade (1995), da Representação da Comunidade Polonesa no Brasil (BRASPOL) e do Consulado da Polônia. O conjunto arquitetônico e de exposições trata da migração polonesa no estado (desde 1911), contendo também as butkas (moradia típica polonesa, de 12m2), igreja e o local de trabalho. Recentemente a integração étnica também se reavivou em torno do Clube Literário Władysław Reymont e do Dyrekcja Klubu, organizados por Ludmila Pavlowski. Tais iniciativas culminarem na proposta criação do Programa de Extensão Universitária, na UNESPAR, denominada Observatório Polonês. A Associação Polska Brasiliana Karol Wojtyla, de União da Vitória, também integra a comunidade através de atividades religiosas, encontros temáticos, culinária, excursões, atividades musicais, etc. Nestes processos interativos entre esta comunidade e nativos poloneses se inserem produções audiovisuais e reportagens em canal de televisão naquele país \citep{pawlowski2019}. Digno de nota é o fato de a Universidade Federal do Paraná – UFPR, ter criado o curso de Licenciatura em Letras Português-Polonês (2009), o único no Brasil, que valoriza a língua, a cultura e a literatura brasileiro-polonesa. Destaque-se também a Casa da Cultura Polônia Brasil, com sede em Curitiba, PR, que produz o Boletim TAK.
Além da produção escrita, existem duas produções fílmicas, uma institucional e uma comunitária. O filme "O herói de Cruz Machado", produzido pelo cineasta Guto Pasko, em associação com a Rede Paranaense de Televisão, retrata de forma fictícia a atuação de Antiocho Pereira, que auxiliou a comunidade daquela localidade diante de epidemia de febre tifoide. A produção independente Nossa História, Nossa Vida, realizada no centenário da Imigração Polonesa em Cruz Machado, produzida por alunos e professores do Colégio Estadual Estanislau Wrublewski, destaca as dificuldades de imigrantes poloneses no processo de colonização de Cruz Machado – PR.
Deste modo, para os fins desta pesquisa e da produção audiovisual levantamos os seguintes problemas: Como é a integração de descendentes de poloneses neste processo de valorização e ressignificação identitária em diferentes tempos, espaços e narrativas textuais e cinematográficas no estado do Paraná (capital e Sul do estado)? Como o público em geral, participantes, visitantes, membros de comunidades e frequentadores destes espaços, lugares de memória e de esquecimento, avaliam e se sentem ao participarem ou vivenciarem tais linguagens e atividades voltadas aos bens culturais poloneses? O que motivou as pessoas a participarem de atividades coletivas e a realizarem produções cinematográficas voltadas ao seu passado? Como o público em geral avalia este processo de integração e difusão cultural? Que impactos as narrativas audiovisuais deste grupo têm na preservação dos valores étnicos, identitários e culturais junto a um público amplo em comunidades localizadas em cidades do Centro-Sul do Estado do Paraná e Norte de Santa Catarina?
Hipóteses
Com já afirmamos, as apreensões de lugares de memória pública ocorrem em vários níveis, os quais são apreendidos de forma plural pelos sujeitos e pelas comunidades, constituindo-se como patrimônio material e imaterial \citep{vianna2016}. Como estas manifestações necessitam ser estudadas e, principalmente compartilhadas, faz-se necessário o engajamento dos historiadores públicos. É neste sentido que a universidade e pesquisadores cumprem sua função social, desenvolvem projetos, produtos ou ações junto com o corpo social investigado de forma continuada.
Neste sentido, nossa hipótese inicial parte do premissa de que as linguagens artísticas, fotográficas e literárias de Herman Schiefelbein (1885-1933) e Arthur Wischral (1894-1982) e Hugo Hegenberg (1900-1975) podem ser consideradas tanto como expressões artísticas e ficcionais que representam elementos da identidade alemã no território brasileiro, quanto representações identitárias de um grupo étnico destinadas à exibição pública em museus, instituições privadas e em instituições do Governo do Estado do Paraná. Diante destes elementos de identificação e exibição, as audiências em geral e as comunidades teuto-germânicas (Estado do Paraná e Norte de Santa Catarina), entendem a salvaguarda de seus bens e valores culturais como tarefa primordial para o fortalecimento da ideia de pertencimento e compartilhamento em distintos espaços de exibição, sejam elas públicas e/ou privadas.
Nossa segunda hipótese está vinculada aos usos do Museu Deolindo Mendes Pereira e do Museu Etnográfico da Imigração Polonesa, o usufruto destes espaços por parte de seus públicos (estudantes, professores, visitantes e pesquisadores) e as formas de exibir e entrar em contato com as respectivas comunidades e visitantes. Assim, a gestão deste espaço, por não contar com museólogos, por não ter um plano museológico atualizado, pela concepção tradicional de museu, que determina a organização de exposições ou exibições, as quais estão relacionados ao cotidiano de seus fundadores, são pouco dinâmicas e inclusivas. Entre os motivos para estas situações estão, de um lado, a ausência de ações de integração e inovação no próprio espaço e com seus usuários, a rigidez das exposições ou exibições, e de outro lado, em razão destas características, o uso ineficiente destes espaços por professores e, também, pela ausência de cursos formativos voltados à temática museal.
A terceira hipótese considera as comunidades polonesas no Estado do Paraná e Norte de Santa Catarina e seus respectivos engajamentos culturais em torno de seu passado, entre elas, a criação do Clube Literário Władysław Reymont, do Dyrekcja Klubue e, por conseguinte, da iniciativa de criação do Programa de Extensão Universitária Observatório Polonês na UNESPAR, campus de União da Vitória \citep{foerst}. As ações coletivas voltadas para o ensino da língua e da cultura polonesa entre descendentes de imigrantes poloneses, mas especificamente em União da Vitória e cidades adjacentes, reavivou a ideia e o senso de pertencimento étnico, identitário e cultural, através de ações formativas, informacionais, educativas, cinematográfica e por intermédio de narrativas impressas e digitais.
Objetivo Primário
O objetivo da pesquisa Museus, Monumentos e comunidades: Lugares de Memória Pública é compreender os elementos estéticos e sensíveis, as relações emocionais com lugares de memória, mediações e difusões públicas do passado através de exibições ou exposições no Estado do Paraná (Centro-Sul) e Norte de Santa Catarina, abrangendo três temáticas distintas, as quais envolvem a coleta de depoimentos, armazenamento de dados, difusão de informações ao público e produção de conhecimento (textos, artigos, capítulos de livro, etc.): a) expressões artísticas, fotográficas e literárias de Herman Schiefelbein (1885-1933), Arthur Wischral (1894-1982) e Hugo Hegenberg (1900-1975); b) interações entre comunidade e os lugares de memória Museu Deolindo Mendes Pereira (Campo Mourão) e Museu Etnográfico da Imigração Polonesa (Cruz Machado), bem como os usos deste espaço para atividades de didáticas, culturais e de pesquisa; c) difusão da cultura e da língua polonesa no estado do Paraná através de iniciativas formativas, informacionais, educativas, cinematográfica e de integração cultural.
Objetivo Secundário
O objetivo secundário da pesquisa Museus, Monumentos e comunidades: Lugares de Memória Pública, bem como os projetos a ele incorporados é a elaboração conjunta de produções audiovisuais (curtas-metragens) voltados ao público a partir de levantamento de dados em entrevistas, pesquisa de opinião pública, produções acadêmicas e interação com pessoas, comunidades e instituições abrangidas pelo projeto.
Revisão de Literatura
Estudar os sentidos atribuídos aos museus, monumentos e comunidades é fundamental para conhecermos as formas como ocorrem os usos do passado e, ao mesmo tempo, colaborar com elas, oferecendo-lhes através do diálogo, atividades práticas e produtos resultantes dos estudos como contrapartida social. Como aporte teórico, destacamos a História Pública, que atualmente está presente em vários países. No Brasil ela despontou na Universidade de São Paulo (2010) e, a partir de então se tornou mais conhecida através de eventos e conferências internacionais \citep{rovai2011}. O primeiro curso de Mestrado, com ênfase em História Pública no Brasil é o da Unespar, campus de Campo Mourão-PR \citep{httpsifphhypothesesorg26522019}. Por outro lado, consideramos a História Oral como aporte metodológico, uma vez que decorre de um projeto intencional, com procedimentos, “devolução pública dos resultados” e orientação para experiências culturais, históricas, social e sensíveis de pessoas, grupos e comunidades com obras de arte, fotografia, literatura, cultura, museus, monumentos e lugares de memória \citep{2002}. Deste modo, estas temáticas não foram definidas “na trajetória de vida dos depoentes” \citep{1989}. Isto em razão de o gênero História Oral Temática ser mais apropriado, pois se pode articular entrecruzamentos de depoimentos (com questões objetivas e roteiros) com outras tipologias de documentos. Neste caso, ao levarmos em conta fatos, situações históricas ou culturais, “[...] o entrevistador pode e deve apresentar outras opiniões contrárias e discuti-las com o narrador, mas com a finalidade de elucidar uma versão que é contestada, nunca para se contrapor ao colaborador” \citep{ribeiro2011}. Deste modo, os depoentes ou representantes de grupos, instituições, museus, escolas, comunidades, clubes literários, entre outros já citados, farão a adesão voluntária para as entrevistas e participação em projeto audiovisual.
Com tais perspectivas, voltadas a ouvir, registrar, discutir, planejar, editorar materiais audiovisuais e disseminá-los através de procedimentos históricos intermediados pelos historiadores e seu público, falamos da “aplicação da história” ou ainda de história pública. Em temos teórico-metodológicas Riopel define que este tipo de abordagem tem como objeto audiências variadas e “[...] idealmente, promove a participação da comunidade em todas as tapas do projeto” \citep{riopel2003}. Por outro lado, Frish define o conceito de partilha de autoridade, a qual envolve a transmissão de conhecimento do historiador ao público e pressupõe uma relação de troca e compartilhamento \citep{frish1990}. Nesta pesquisa/produção audiovisual, o termo curta-metragem, define-se conceitualmente como gênero documentário, sendo, portanto, seu planejamento, filmagem e edição fundamentados a partir de eventos reais, embora que a ficção também esteja presente nestes processos. Barry Hamp especifica algumas tipologias de documentários: históricos ou biográficos, docudrama, documentários de comportamento, documentários emotivos ou emocionais e, vídeos da realidade \citep{hampe1997}.
Em Santhiago a dimensão pública da história oral produz “insights do e para o público” e a vantagem de a narração de histórias ter interesse de expectadores. A partir do conceito da “cultura das bordas” e de história pública, pode-se compreender “os níveis de inserção e de circulação de criações culturais”, as quais as escritas de si podem ser articuladas aos museus para acesso e usos do público \citep{2013}. Para além desta perspectiva do letramento, Michel Agier possibilita a investigação das formas como o passado é ritualizado atualmente, a partir de valores partilhados em rede. Neste aspecto, regiões e mesmo os espaços urbanos se transformam “[...] em fronteiras identitárias, mesmo em sua forma mais completa, a do bairro étnico, [...] fundada sobre olhares cruzados que põem em jogo diferenças de gosto, de estilos de vida e de comportamentos” \citep{agier2011}. Aliás, é preciso ressaltar que nos Estados Unidos os procedimentos éticos em história oral se iniciaram na década de 1970 com os historiadores públicos, os quais passaram a refletir sobre a conduta adequada dos historiadores, a responsabilidade na interpretação das fontes, suas relações com o público e os procedimentos acadêmicos \citep{1986}.
Ao atuarmos com grupos ou comunidades torna-se necessária a mediação ética do historiador, a qual deve estar atenta para os significados de existência e de identidade e para colocar-se “[...] diante de novas perguntas sobre os efeitos da produção histórica, da divulgação de novos saberes, da autoria compartilhada e dos benefícios às comunidades com as quais escolhe lidar” \citep{rovai2018}.
Em relação à teoria do cinema, tanto como interpretação de filmes quanto aplicação e desenvolvimento deste tipo de narrativa, privilegiamos as relações entre o imaginário, semiologia e psicanálise, a partir dos pressupostos de Cristian Metz. Isto porque os arranjos de imagens e sons estabelecem relações entre o imaginário e o simbólico a partir da realidade e da ficção \citep{1980}, \citep{andrew2002}. Além disto, estes processos de elaboração técnica se fundamentam em várias publicações, tendo como focos planejamento, linguagem cinematográfica, roteiro, direção, decupagem, produção, entre outras \citep{2009}, \citep{mclane2006}, \citep{mckee2018}, \citep{2002a}.
Os museus enfrentam problemas em relação às formas como suas audiências interpretam e interagem com suas coleções. É neste sentido que Knaus alerta para a mobilização deste espaço para os movimentos de colaboração, “de reconhecimento e autoridade compartilhada” \citep{2018}. Neste caso, para refletirmos os lugares de memória, de esquecimento e de identidade, partimos da tese da esterilização museal, na qual objetos, monumentos e linguagens podem ser considerados como reificações discursivas, ao mesmo tempo em que estabelecem contato com o público e compreendem processos identitários e de patrimonialização \citep{neuchtel1983}. Sublinhe-se que é preciso pesquisar a relação entre a História Pública e os monumentos, as ações e as atuações do historiador-curador, as quais exigem atuações inter e transdisciplinares \citep{2016}. Quanto aos museus abrangidos pelos projetos (Museu Deolindo Mendes Pereira e Museu Etnográfico da Imigração Polonesa), interessa-nos, também, aplicar instrumento de medida a fim de verificar como eles trabalham com seu público \citep*{3trm9}. Desenvolvemos dois questionários, tanto para avaliar como os professores usam os museus e outro para avaliar como o público usufrui destes espaços, verificar a acessibilidade e as formas de inclusão social \citep{2019}, \citep{kobelinski2010}. É nesta perspectiva que as relações entre teorias e práticas nos lançam para atividades conjuntas a fim de salvaguardar “patrimônios importantes ou ameaçados”, estabelecendo vínculos entre especialistas que trabalham com o patrimônio cultural e àqueles que conservam o patrimônio através de ótica da ordem pública ou popular \citep{reap2011}.
As pessoas se deparam constantemente com estátuas, bustos, ermas, obeliscos, entre outros, os quais representam celebrações de fatos históricos marcantes, ou mesmo, homenagens a figuras históricas. E, de fato, tudo isso significa a criação ou o estímulo do sentimento de pertencimento e de identidade nacional ou étnica, o forjar de uma consciência cívico-patriótica que precisa ser esmiuçada junto ao público em geral e junto às comunidades, que muitas vezes estão às margens da sociedade. Assim, os heróis e suas simbologias, bem como todos os aparatos monumentais, que atingem “a cabeça e o coração dos cidadãos”, em suas dimensões políticas e ideológicas, devem ser analisados e discutidos publicamente \citep{carvalho1990}, \citep{knauss1999}.
Por conseguinte, o conceito de identidade envolve a compreensão que os sujeitos têm de si mesmos e de seus respectivos pertencimentos e/ou enquadramentos, sejam eles comunitários, grupais, nacionais ou internacionais. A identidade revela uma realidade subjetiva a qual não pode se desatrelar da relação dialética com a sociedade \citep*{luckmann2004}.
A individualização não é senão o fruto da socialização dos sujeitos pela própria sociedade. Como alerta Hall (2001), a formação do eu não escapa das interações com o social, e da projeção deste eu na sociedade. É neste sentido que valores e significados são internalizados constantemente, provocando assim, a subjetividade \citep{2001.}. Em contrapartida, a constituição de uma identidade nacional se consagrou no reconhecimento de um passado sustentado por tradições forjadas, ou mesmo por (re)apropriações dos mitos fundantes da nacionalidade, os quais conferiram uma suposta realidade e certa legitimidade imaginativa (comunidade imaginada), as quais também se materializam nos discursos museais \citep{ranger2012}, \citep{anderson2008}. Portanto, nestas perspectivas, o patrimônio histórico, cultural e artístico, seria um elemento de consolidação das tradições e do imaginário social que merecem atenção do historiador público.
Riscos
As pesquisas e as produções audiovisuais apresentam riscos aos sujeitos envolvidos nestes processos, os quais se especificam no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (em anexo), bem como as providências para minimizá-los \citep*{polticos}.
Considerando as abordagens em História Pública e História Oral, as quais nortearão a tomada de depoimentos e elaboração de curtas-metragens, têm-se como
potenciais riscos: 1) a invasão de privacidade ou da vida pessoal; 2) questionamentos sensíveis ou emotivos; 3) revelação de pensamentos ou sentimentos indesejados; 4) discriminação ou estigmatização a partir da divulgação de conteúdos; 5) divulgação de dados confidenciais; 6) despender tempo dos sujeitos da pesquisa com depoimentos e filmagens; 7) divulgação inapropriada de fotografias, coleções e assemelhados, ou ainda do próprio conteúdo audiovisual resultante das atividades propostas.
Portanto, tomar-se-ão as seguintes providências para minimizar os riscos previamente apontados: 1) garantir que não ocorrerá invasão de privacidade (trabalho, domicílio, internet), bem como exposições da vida pessoal ou da particularidade de sujeitos, famílias e/ou comunidades; 2) atenuar possíveis desconfortos de tempo e local, combinando com os depoentes/participantes, ambientes para depoimentos ou locações de filmagens; 3) assegurar a liberdade para que os sujeitos, grupos ou comunidades não respondam e/ou não autorizarem perguntas, filmagens ou linguagem cinematográfica que possam constranger ou que revelem pensamentos ou sentimentos indesejados; 4) assegurar, a confidencialidade, a privacidade, a proteção da imagem, a não estigmatização ou discriminação de pessoas, grupos ou comunidades; 5) asseverar a não utilização de dados ou de informações que prejudiquem pessoas, grupos ou comunidades, bem como sua autoestima e/ou prestígio econômico-financeiro; 6) afiançar a participação voluntária e a suspenção imediata de depoimentos ou filmagens que causem riscos não previstos no TCLE; 7) garantir aos sujeitos, grupos ou comunidades a divulgação pública, tanto de resultados da pesquisa científica quanto do conteúdo de material audiovisual resultante; 8) afiançar o respeito aos valores culturais, sociais, linguísticos, morais, religiosos, éticos, hábitos e costumes de comunidades envolvidas na pesquisa e produção audiovisual; 9) assegurar que possíveis danos aos sujeitos, grupos ou comunidade terão assistência e direito à indenização; 10) asseverar que os resultados das produções acadêmicas e audiovisuais terão resultados positivos aos envolvidos na pesquisa e produção audiovisual; 11) garantir a inexistência de conflitos de interesse entre pesquisador e sujeitos da pesquisa, bem como o uso restrito das informações apenas neste projeto; 12) assegurar a recusa em participar ou retirar seu consentimento em qualquer etapa da pesquisa.
Benefícios
Os sujeitos, grupos ou comunidades envolvidas na pesquisa não serão explorados através de recursos midiáticos. Ao contrário, os benefícios diretos e indiretos envolvem a valorização do ser humano e da sociedade no tocante aos seus valores individuais, sociais e culturais, bem como o seu direito ao conhecimento, à cultura e à interação com a universidade. Em relação aos proveitos ou vantagens decorrentes da participação dos sujeitos, grupos ou comunidades na pesquisa, enfatizamos que possíveis premiações ou menções honrosas serão compartilhadas entre todos. Deste modo, os sujeitos da pesquisa terão como benefício a possibilidade de compartilhar histórias, de refletir seu passado junto com historiadores, além de obterem conhecimento e de saberem como os historiadores públicos interpretam e produzem história.
Os resultados da presente pesquisa e produção audiovisual poderão fortalecer a estruturação de disciplinas em cursos de graduação, formação continuada e eventos comunitários. Tais iniciativas podem fornecer subsídios para o planejamento da Educação em Museus nos municípios abrangidos pelo projeto e consolidar atividades extensionistas na UNESPAR. A transferência de conhecimento se efetuará a partir de atividades de extensão, seminários, palestras, mostras fotográfico-artísticas, lançamentos de livros e documentários. Da mesma forma, pretende-se expor os resultados parciais do trabalho em eventos científicos, além da publicação de artigos em revistas especializadas e da atividade de pesquisa e docência. Neste aspecto, o proponente deste projeto organizará atividades através do Grupo de Pesquisa História Pública a fim de disseminar o conhecimento produzido coletivamente, envolvendo sujeitos, museus, comunidades e projetos de nossos orientandos dos Programas de Pós-graduação em História: História Pública e Ensino de História - Profhistória.
Metodologia de Análise de Dados
A metodologia de análise de dados, embasadas na História Pública (Rovai, 2011; Riopel, 2003; Frish, 2003; Santhiago, 2018), na História Oral (Meihy, 2002; Alberti, 1980) e no Cinema (Hamp, 1997; Metz, 1980; Glynne, 2009; Ellis & MAcLane, 2006), consiste na análise de informações levantadas através de entrevistas, as quais serão correlacionadas às informações escritas e audiovisuais (i. é, pesquisa bibliográfica e observação). Deste modo, contemplamos aspectos quanti-qualitativos (pesquisa de opinião pública, entrevistas e/ou depoimentos) relacionados aos eixos temáticos
linguagens artísticas, fotográficas e literárias teuto-brasileiras (as quais serão realizadas em Curitiba, Bituruna, União da Vitoria, Porto Vitória, Paulo Frontin, Cruz Machado, Canoinhas – SC, Porto União-SC; ),
interações e usos públicos do Museu Municipal Deolindo Mendes Pereira (que será realizada em Campo Mourão) e do Museu Etnográfico da Imigração Polonesa (que será realizada em Cruz Machado), e
difusão da cultura e da língua polonesa (as quais serão realizadas em Curitiba, Bituruna, União da Vitoria, Porto Vitória, Paulo Frontin, Cruz Machado, Canoinhas – SC, Porto União-SC)
\cite{2020a}. Para a realização das entrevistas serão convidados participantes de comunidades de origem alemã e polonesa, curadores, professores, simpatizantes e/ou descendentes de imigrantes (estrangeiros) que se interessem ou tenham relações com as temáticas acima elencadas, totalizando trinta (30) pessoas. Sobre as entrevistas, enfatizamos a abordagem em história oral temática (Meihy, 2002; 2011; Meihy & Holanda, 2018), a qual pode ser compulsada à luz de documentos impressos e audiovisuais. Neste sentido, no âmbito da História Pública, também serão levantadas informações sobre os usos do passado através da elaboração de vídeos pela própria comunidade, as quais enfatizam a história e a identidade polono-brasileira.
A pesquisa também será realizada dentro de clubes étnico-literários (Clube Literário W. Reymon, Dyrekcja Klubu) e dos museus abrangidos pelo projeto (Museu Deolindo Mendes Pereira, Campo Mourão; Museu Etnográfico da Imigração Polonesa, Cruz Machado), entre os quais, os membros que a representam, ou mesmo os representantes das comunidades locais, (Termos de Ciência dos Responsáveis pelos Campos de Estudo), que, por conhecerem os lugares onde atuam ou participam, poderão indicar possíveis participantes no projeto, justamente por conhecerem melhor a realidade local do que o próprio pesquisador. Nesta pequena inversão, não é apenas o pesquisador que determina quem vai falar. Ao contrário, as comunidades também definem quem pode colaborar da melhor maneira possível, pois com os contatos e interações com o pesquisador, compreenderão a amplitude da pesquisa e poderão torná-la mais próxima da realidade. Neste sentido, além das questões empíricas levantadas pela História Oral e pela História Pública, o campo sociológico corrobora nosso direcionamento para as colaborações espontâneas entre pesquisador e comunidade. Em Bourdieu, o conceito de habitus e de campo nos permite ir da teoria à pratica, uma vez que a investigação científica é feita por constantes retomadas, onde o método significa um modus operandi composto por etapas. Nesta inversão metodológica, a realidade empírica funciona como reflexo da estrutura teórica e, por conseguinte, permite a o desenvolvimento de etapas analíticas e relacionais, entre elas, as que abrangem as relações objetivas entre as posições no campo e a as disposições subjetivas (habitus). Nesta perspectiva, a teoria não teria a pretensão de conhecer plenamente dos fatos sociais e se sobrepor ao conhecimento de seus atores ou testemunhas, mesmo porque se quer evitar reificações teóricas que funcionam como discursos e práticas efetivas.
É importante demarcar, nesta parte do trabalho, o aspecto teórico metodológico em relação ao universo de estudo e à pesquisa participante. Neste caso, aproximamos os conceitos de autoridade compartilhada (Frish, 1990), alteridade e comunidades interpretativas (Schmidt, 2006), justamente pela necessidade de articular saberes populares e mídias na autorreflexão comunitária, as quais envolvem subjetividades de sujeitos e comunidades, bem como a forma como as pessoas estabelecem relações através das tecnologias digitais \citep{s2006}.
Em relação à pesquisa de opinião pública, desenvolvemos a partir da plataforma Google Formulários, duas abordagens: a) Museu Municipal: expectativas da visita, destinadas ao público em geral; b) Museus: atividades docentes, destinadas aos professores. Deste modo, serão impressos Códigos QR para serem fixadas em suportes em local apropriado para disponibilizar acesso por celulares, aos respectivos formulários em website do pesquisador. Além disto, serão disponibilizados formulários impressos, levando em conta visitantes e professores (que não podemos precisar numericamente neste momento). Considerando a abrangência e extensão da pesquisa, estipulamos o período de três anos para a sua realização.
Portanto, estas metodologias de análise de dados, associando história pública e história oral pode ser utilizada como importante recurso para a produção de documentário, mesclando experiência, autoridade e o reconhecimento de que há transformação e adaptação de uma linguagem para outra, as quais devem considerar a fidelidade, tradução/adaptação e transcrição do contexto social, realizada pelo pesquisador e comunidade investigada, bem como a difusão de linguagem cinematográfica para outros públicos, o que aumenta a responsabilidade do trabalho coletivo \citep{frish1990a}. Em termos práticos, a metodologia envolve a coleta, salvaguarda e difusão de informações ao público, bem como sua transformação e adaptação em textos ou similares que auxiliem nos processos de edição audiovisual. Neste aspecto, cabe destacar que, como documentarista pela Academia Internacional de Cinema, serão empregadas as técnicas de roteirização, fotografia, Direção e Edição, bem como seu respectivo registro na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em conformidade com a Lei de Direitos Autorais, Nº 9.610, de 19/02/1998. Outrossim, as produções escritas serão encaminhadas à periódicos específicos e as produções audiovisuais serão postadas no canal do YouTube intitulado, História Pública – Public History, vinculado ao Programa de Mestrado em História Pública da UNESPAR, campus de Campo Mourão (Figura 2).